sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O SABOR DOS LIVROS NA PRAÇA

A Feira do Livro de Porto Alegre se inclui no primeiro time das grandes festas da cidade. Leitores e não-leitores confraternizam em amável comunhão. Mas, sem dúvida a festa é mais retumbante entre os leitores, e muito especialmente os leitores vorazes, aqueles dependentes de uma dose diária indispensável de leitura, que não conseguem dormir sem ler alguma coisa, ainda que seja uma bula de remédio.

Não sei se ler um iPad na cama, antes de dormir, tem a mesma graça do livro de papel. Bill Gates garante que não vai morrer sem realizar um sonho − acabar com o que ele chama de “anacronismo” dos livros de papel: “As telas dos computadores estão em condições de substituir com êxito os jornais e os livros de papel.”

Guillermo Arriaga, diretor de cinema (Burning Plain) e roteirista (21 gramas, Babel, Amores brutos) afirma que o livro de papel é imbatível, e não vai morrer, por um motivo singelo: é mais prático. “Existe algo mais perfeito que isso?” − pergunta Arriaga, sacudindo um livro com a mão. − “Posso abri-lo, fechá-lo, amassar suas páginas, dobrar, segurar debaixo do braço, virar, largar, pegar… Não vejo problema com os livros eletrônicos, mas não se pode manipulá-los, o que é grande parte da diversão. O livro de papel é perfeito − e o livro eletrônico morre assim que acaba a bateria”.
Umberto Eco, escritor que vendeu milhões de exemplares do seu super best-seller “O nome da rosa”, demonstra estranhamento e desconforto com o debate:
“A opinião pública (ou pelo menos os jornalistas) tem sem sempre essa ideia fixa de que o livro vai desaparecer (ou então são esses jornalistas que acham que seus leitores têm essa ideia fixa) e cada um formula incansavelmente a mesma indagação.”
Eco entusiasma-se dizendo que as variações não alteraram o “objeto livro” em mais de 500 anos:
“O livro venceu seus desafios e não vemos como, para o mesmo uso, poderíamos fazer algo melhor que o próprio livro. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher.”
Vale relembrar a lição de Millôr Fernandes, o gênio premonitório, que, muitos anos antes do debate atual, antecipou-se ao debate com ironia soberba:
“Anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas – L.I.V.R.O. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada, nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!”
Fonte > ZH 08/11/2013

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