Ele está ali numa foto exibida em painel no corredor da Casa dos Bancários, andar térreo. É o registro de uma assembleia dos bancários que precisou ser levada para o Araújo Viana, teatro que fica no Parque da Redenção, em Porto Alegre, de tanto trabalhador que tinha. O ano era 1979, ele não lembra bem (veja foto acima no detalhe), e a participação numa das primeiras greves em anos de abertura política nos estertores da Ditadura Militar formou o militante político, da cultura e amante dos livros. A ponto de ele visitar com muita frequência a Biblioteca do SindBancários e anunciar, após a sua aposentadoria, no emblemático 31 de março de 2016, exatos 52 anos depois do Golpe Civil Militar de 1964, que irá retornar a cada último dia de março para doar um livro à biblioteca de seu sindicato. A história do bancário da Caixa, Ricardo Hubba, se confunde com a história do SindBancários. Na foto, ele diz que tinha cabelos, era mais jovem e quase acabou demitido do primeiro emprego como bancário. Era funcionário do Unibanco na época. Não participou de toda aquela greve do final dos anos 1970. Foram 11 anos de Unibanco e mais 26 anos de Caixa Econômica Federal. Na tarde da quarta-feira, 4/5, Hubba esteve no Sindicato, mais precisamente na Biblioteca, para doar 12 livros.
“Dia 31 de março foi meu último dia na Caixa. Estou aposentado. Conversei em casa, conversei com amigos e procurei a bibliotecária Beatriz Perlasca. Ela me passou uma lista dos livros. Como tenho tempo agora, fui arrecadando ajuda e conseguimos fazer essa doação. Vou continuar incentivando a leitura e a cultura aqui no Sindicato. Espero conseguir a cada 31 de março vir aqui doar ao menos um livro”, anunciou.
Ricardo Hubba é sindicalizado desde os primeiros dias que trabalhou como bancário. E vai seguir. Diz que o movimento sindical é um importante espaço de luta e de avanços nos direitos dos trabalhadores. E que vai se transformar em um ambiente ainda mais importante de defesa dos direitos diante do golpe nos direitos dos trabalhadores que o processo de impeachment representa.
A foto em que aparece no meio da multidão, quase metade de seu rosto encoberto por colegas na assembleia de 1979 é a prova de que vale a pena lutar por seus direitos em tempos obscuro da história do país, como o que vivemos agora. “Sou sindicalizado desde sempre. Tinha dois meses de banco (Unibanco) quando participei da primeira greve. Quando cheguei de volta no meu local de trabalho, vi que, na minha pasta de documentos, havia uma carta de demissão pronta. Daquela vez, sobrevivi”, contou.
A bibliotecária Beatriz Perlasca, da Biblioteca do SindBancários, elogia a atitude do bancário aposentado Ricardo Hubba. “Ele é um incentivador. Vem nos visitar na Biblioteca toda a semana. Até furo para arrumar uma mesa ele já fez. Ele tem uma preocupação muito grande em divulgar a importância da Biblioteca. É um parceiro”, diz Beatriz. “Pretendo continuar sendo parceiro”, completa Hubba.
Contar a história afetiva que o bancário Ricardo Hubba tem com o seu Sindicato e com a Biblioteca dele é exaltar a importância do investimento em cultura. Além de frequentador assíduo da Biblioteca do Sindicato, Hubba já participou das oficinas literárias do professor Alcy Cheuíche e pode participar das inúmeras oficinas disponíveis, desde dança de salão, passando por percussão, teatro e roteiro de cinema e de palhaço. “Não sei por que fui bancário. Foi meu primeiro emprego. A cultura e o Sindicato são muito importantes para a formação da gente”, analisa.
Hubba tem um projeto bastante ambicioso. Como fundador da APCEF, ele participa da Confraria Astronômica Caixa de Joias. Quem puder ajudar a montar o observatório, eles aceitam doações. Qualquer ajuda é bem vinda. O mesmo pode-se dizer da Biblioteca do Sindicato: há sempre listas de livros à espera de doadores. Mãos à obra. Ou melhor, aos livros! A cultura sindical agradece a força à luta.
Fonte: http://www.sindbancarios.org.br/bancario-mostra-o-caminho-da-sua-luta-ao-incentivar-a-cultura-doando-livros-a-biblioteca-do-sindbancarios/
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