
"O Verão tardio" é uma história de inadequação. Depois de
mais de vinte anos, Oséias, um homem abandonado por mulher e filho,
decide regressar a sua cidade-natal, Cataguases, em Minas Gerais.
Durante seis dias, seguimos passo a passo suas andanças, visitas a
familiares, encontros com velhos personagens locais. A sombra do
suicídio de uma de suas irmãs, Lígia, e a comunicação falha com
praticamente todos a sua volta acompanham suas tentativas de reatar os
fios do passado. Em meio a um Brasil que parece ir do projeto à ruína a
todo momento, "O Verão tardio" propõe uma reflexão sobre uma sociedade
em que as classes sociais romperam completamente o diálogo e, como
afirma um de seus personagens, se tornaram "planetas errantes" prontos
para entrarem em rota de colisão e se destruírem.
Numa manhã de votação que parecia como todas as outras,
na capital de um país imaginário, os funcionários de uma das seções
eleitorais se deparam com uma situação insólita, que mais tarde, durante
as apurações, se confirmaria de maneira espantosa. Aquele não seria um
pleito como tantos outros, com a tradicional divisão dos votos entre os
partidos "da direita", "do centro" e "da esquerda"; o que se verifica é
uma opção radical pelo voto em branco. Usando o símbolo máximo da
democracia - o voto -, os eleitores parecem questionar profundamente o
sistema de sucessão governamental em seu país. É desse "corte de energia
cívica" que fala "Ensaio sobre a lucidez". Não apenas no título José
Saramago se remete ao seu "Ensaio sobre a cegueira" (1995): também na
trama ele retoma personagens e situações, revisitando algumas das
questões éticas e políticas abordadas naquele romance. Ao narrar as
providências de governo, polícia e imprensa para entender as razões da
"epidemia branca" - ações estas que levam rapidamente a um devaneio
autoritário -, o autor faz uma alegoria da fragilidade dos rituais
democráticos, do sistema político e das instituições que nos governam. O
que se propõe não é a substituição da democracia por um sistema
alternativo, mas o seu permanente questionamento. É pela via da ficção
que José Saramago entrevê uma saída para esse impasse - pois é a
potência simbólica da literatura (território em que reflexão, humor,
arte e política se entrosam) que se revela capaz de vencer a
mediocridade, a ignorância e o medo.
MIL SÓIS: POEMAS ESCOLHIDOS
Uma seleção de poemas de Primo Levi no ano de seu centenário. Com uma poesia bissexta, escrita em períodos fervorosos de criatividade, a lírica de Primo Levi atravessou diversas fases. Em todas, temas como a sobrevivência em meio às catástrofes e a desumanização se unem a um registro delicado que parece buscar a claridade, a comunhão e o amor por todos os seres vivos. Nesta antologia, preparada por Maurício Santana Dias, o leitor brasileiro conhecerá a poesia de um escritor que transformou o compromisso moral em alta literatura, e a força da memória, num verdadeiro ofício.
Violência, anarquia e desintegração ditam o ritmo em
Caracas. Nesse cenário desolador, Adelaida Falcón tem a vida destroçada
pela morte da mãe. Logo depois do enterro, ela se depara com sua casa
ocupada por um grupo de mulheres. Ao procurar ajuda, tenta falar com a
vizinha, Aurora Peralta, conhecida como "a filha da espanhola", mas a
encontra morta. Em cima da mesa da sala, Adelaida vê documentos que
podem mudar sua vida, dando início a uma jornada pela própria
sobrevivência. "Noite em Caracas" retrata a saga de uma mulher que
enfrenta situações extremas, enquanto precisa aceitar a ausência
definitiva da mãe homônima, em um país que também desaparece aos poucos.
Ela narra sua história entremeando lembranças de um passado não muito
distante, de uma vida simples como filha de professora em um grande
centro urbano, com um presente no qual resistir se torna um ato de amor e
coragem. No entanto, a autora não fala apenas de um país e de um
tempo, mas de todos que tenham sido tirados de sua terra, de seu lugar
no mundo, que tenham perdido o direito de serem enterrados onde
nasceram.
Roger Brown é o melhor "headhunter" da Noruega. As maiores empresas do país contam com seu faro na hora de escolher seus executivos. É casado com uma mulher deslumbrante e mora em uma mansão. Tem a vida perfeita, mas é cada vez mais difícil pagar por ela. E Roger só consegue isso roubando obras de arte e vendendo para o mercado negro. Mas há outro caçador nesse jogo, e os riscos que Roger corre podem colocá-lo em um terrível pesadelo.
TER LIVROS É CRIME. DENUNCIE. Numa época em que os livros
são proibidos, o misterioso Santiago Pena acaba de chegar a Portugal,
onde conhecerá Alice, menina desprezada pelos pais. O encontro de um
antigo caderno trará questões intrigantes. Que relação haveria entre um
jovem acusado de crime que alega não ter cometido, suntuosos projetos
arquitetônicos e a descoberta de uma biblioteca abandonada? Romance para
ser saboreado não só pelo enredo recheado de tensões e suspense, mas
também pelos detalhes de construção, insere-se na melhor tradição da
cultura ocidental, com sutis menções a livros, poemas e vinhos, a mitos
clássicos e folclore, a obras de arte e teorias científicas, além de
enveredar por grandes discussões da contemporaneidade, como privacidade,
identidade, genética, direito ao esquecimento. Dialogando com clássicos
da literatura universal, "O Silêncio dos livros" indaga qual seria o
destino de uma sociedade que, fascinada pelos avanços tecnológicos,
abolisse os livros. E lança um desafio aos que teimam em proclamar,
sombriamente, a morte de um dos maiores símbolos da civilização.

SEROTONINA
Florent-Claude Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e
toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos
colaterais: náusea, falta de libido e impotência. A França está
afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude
está afundando. O sexo é uma catástrofe. A cultura não é mais uma tábua
de salvação ― nem mesmo Proust ou Thomas Mann são capazes de ajudá-lo.
Nesse contexto, Florent-Claude descobre vídeos pornográficos assombrosos
em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d’água para que
ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Perambula pela cidade,
visita bares, restaurantes e supermercados. Repassa suas relações
amorosas, marcadas sempre pelo desastre, que transitam entre o cômico e o
patético. Ao se reencontrar com um velho amigo aristocrata, que parecia
ter uma vida perfeita, mas que foi abandonado pela esposa e se vê
falido, o protagonista se envolve em uma manifestação de agricultores
com resultados trágicos. Nessa espiral de problemas, ora patéticos, ora
cômicos, Florente-Claude se torna hábil analista da contemporaneidade,
de seus anseios e problemas. Sua vida, um reflexo do desinteresse pelo
mundo, será o espelho das mais cruéis agruras. Ao narrar seu périplo por
uma França decadente e esquecida, Houellebecq compõe um retrato sobre a
falência dos ideias humanistas e do bem-estar social, em um romance
ousado , magistral.
Dois personagens, um lenhador pobre e sua mulher,
sobrevivem com muito pouco no meio de uma floresta ao lado de uma
ferrovia. Diariamente observam os comboios atulhados de gente passarem
diante de seus olhos. Ingênua, a mulher sempre espera por um aceno ou
mesmo um presente. Para onde vão essas pessoas?, ela se pergunta sem
fazer ideia do que de fato está acontecendo. Tudo o que ela mais deseja,
dia após dia, é ter um filho. Mas nunca consegue. Até que alguém joga o
presente que ela jamais pensou receber: um bebê. Uma menininha, gêmea
de outro menininho que continua no colo de sua mãe dentro do trem.
Famintos e transtornados pelas angústias e privações materiais da Grande
Guerra, seus pais foram obrigados a fazer uma escolha inapelável e
radical. Neste breve relato, o autor, à maneira das fábulas, fala de um
dos capítulos mais tenebrosos da história da humanidade: a deportação de
milhões de judeus para os campos de concentração nazistas

ESCRITOS DE UMA VIDA
Esta coletânea fala de um Brasil que persiste e se
reinventa na luta contra o racismo. É a trajetória de uma mulher de
luta, uma intelectual inquieta e generosa. O pensamento feminista negro
potente de Sueli Carneiro é fundamental e atual para o debate racial e
de gênero e construção de um modelo alternativo de sociedade.
Este livro descreve uma jornada em direção ao pensamento
filosófico por meio de uma linha, provisória e pontilhada, que parte do
surgimento do Homo sapiens até os dias atuais. Especialmente em função
dos impasses que vivemos, o eixo desta busca é o ser humano, o seu modo
de ordenação, o modo como foi cunhado como ser racional. Afinal, o que
somos? O que nos tornamos? São perguntas essenciais no mundo
contemporâneo. Por que chegamos até aqui? E de que modo podemos sair
deste impasse? Falamos da era da pós-verdade, mas não sabemos o que é e o
que significa esta transformação. Neste livro, a criação da razão e da
verdade, esta que hoje desaba, é tema central. Guiada por Nietzsche,
Viviane Mosé discute não apenas o nascimento da razão ocidental, mas a
queda deste modelo de ordenação do pensamento. Mais do que isso, esta
análise busca nos preparar para estes novos tempos onde tudo se torna
perspectiva. Este é um livro útil para todo aquele que busca iniciar uma
trajetória em direção às grandes questões que moveram a humanidade até
aqui.
Um livro sobre o luto e suas consequências, que navega com maestria
entre a ficção e a memória. Quando Rosa Montero leu o impressionante
diário (incluído como apêndice neste livro) que Marie Curie escreveu
após a morte de seu marido, ela sentiu que a história dessa mulher
fascinante guardava uma triste sintonia com a sua própria: Pablo
Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco depois de
enfrentar um câncer. As consequências dessa perda geraram este livro
vertiginoso e tocante a respeito da morte, mas sobretudo dos laços que
nos unem ao extremo da vida.
"Sopram ventos malignos no planeta azul", sentencia o
sociólogo Manuel Castells, enquanto o mundo é assolado por um turbilhão
de múltiplas crises. A crise econômica que se prolonga em precariedade
de trabalho e desigualdade social; o terrorismo fanático que
impossibilita a convivência humana e alimenta o medo; a permanente
ameaça de guerras atrozes como forma de lidar com conflitos; as inúmeras
violações dos direitos humanos e à vida. Existe, porém, uma crise ainda
mais profunda, mãe de todas as outras: a ruptura da relação entre
governantes e governados, a desconfiança nas instituições e a não
legitimidade da representação política. Trata-se do colapso gradual de
um modelo político de representação: a democracia liberal. Neste livro
urgente, fruto de ampla pesquisa, Castells analisa as causas e
consequências desse rompimento, à luz dos mais recentes acontecimentos
políticos mundiais: a vitória de Trump nos Estados Unidos; o resultado
do Brexit no Reino Unido; a desconfiguração partidária na França; e a
ideia de "democracia real", em oposição à democracia liberal moribunda,
nascida dos movimentos sociais originários das redes sociais na Espanha,
que levou ao fim do bipartidarismo no país. Mas aonde nos levará essa
ruptura? Qual a nova ordem que substituirá a que morre? Se o futuro é
ainda incerto, Castells nos faz refletir e enxergar com clareza o
panorama atual, em uma publicação mais que oportuna para o momento de
incerteza em que vivemos.
COMO AS DEMOCRACIAS MORREM
Democracias tradicionais entram em colapso? Essa é a
questão que os autores, dois conceituados professores de Harvard,
respondem aqui ao discutir o modo como a candidatura e a eleição de
Donald Trump se tornaram possíveis. Para isso, confrontam a situação de
Trump com rupturas democráticas emblemáticas: da manipulação do sistema
eleitoral no sul dos EUA no século XIX aos casos contemporâneos de
Hungria, Turquia e Venezuela, passando pela Europa dos anos 1930 e as
formas distintas de ditadura de Pinochet, no Chile, e Fujimori, no Peru.
Na era da conexão digital; nunca estivemos tão
desconectados com a comida; o corpo e a saúde. Em busca de soluções
rápidas; as pessoas dividem os alimentos entre bons e ruins; partem para
dietas restritivas; importam fórmulas que deram certo para os outros.
Resultado: comem mal; sem prazer; frustram-se e sentem-se culpadas. O
mindful eating – comer com atenção plena – traz um olhar sensível e
diferente para o contexto da alimentação. Respeitando as escolhas e as
vontades de cada um; propõe uma jornada de autoconhecimento e revisão
dos hábitos à mesa com o objetivo de dar novos significados e propósitos
à relação com a comida. Ancorado em preceitos como atenção no presente;
equilíbrio e não julgamento; o mindful eating mudará o jeito como você
come; se cuida; faz compras; cozinha e convive com a família.
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